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BOLETIM CLÍNICO - número 2 - outubro/1997

Boletim Clínico | Psicologia Revista | Artigos

8. Núcleo de Terapia de Casal e Família - Almira Rossetti Lopes(1) e Magdalena Ramos(2)

INTRODUÇÃO

Ao apresentar este trabalho sobre o Núcleo de Terapia de Casal e Família temos por finalidade narrar uma experiência acumulada ao longo de vinte anos e possibilitar uma troca de idéias com profissionais da área, o que pode ser muito erriquecedor.

OBJETIVO DO NÚCLEO

Esse núcleo, ainda na graduação, tem por objetivo apresentar ao aluno uma forma diferente da abordagem terapêutica, isto é, trabalhar com a relação de um casal e de uma família, mostrando-lhe a complexibilidade da tarefa e abrindo-lhe perspectivas para, depois de formado, poder escolher a partir de noções básicas, e aprofundar-se, quer em cursos de especialização, quer em cursos de pós-graduação, nessa linha de conhecimento para só então se tornar terapeuta familiar.

HISTÓRICO DO NÚCLEO

Iniciamos nossas atividade há vinte anos por intermédio do Núcleo de Orientação Familiar, com duração semestral no qual ministrávamos nossas disciplinas e estágios supervisionados aos alunos dos dois últimos anos do curso de graduação de psicologia. Trabalhávamos de uma forma muito diretiva, próxima ao aconselhamento, assim foi durante dois anos.

Com a entrada de novos membros na equipe e a oportunidade dos antigos de maior aprofundamento quer no Brasil, quer no exterior, passamos a introduzir orientação psicanalítica no trabalho com casais e família, porém ainda foram mantidos textos ligados a teoria sistêmica. Esta dupla abordagem, de um lado confundia os alunos, e de outro, não refletia a verdadeira prática usada nos atendimentos dos professores do núcleo. Fomos, então, deixando a orientação sistêmica e assumindo totalmente, há quatorze anos, tanto na teoria como na prática, a orientação psicanalítica que desenvolvemos até hoje.

Devido à mudança de abordagem e, conseqüentemente, de objetivo, pois passamos do aconselhamento para a terapia de casal e família, consideramos insuficiente o tempo com que contávamos. Solicitamos à PUC-SP a extensão da duração do núcleo para mais de um semestre, atendendo assim a necessidade de melhor formação dos alunos e por outro lado fornecendo um melhor atendimento aos nossos clientes.

NÚCLEO ATUAL

Atualmente, o núcleo se denomina Teoria e Técnica de Diagnóstico e Psicoterapia de Casal e Família, faz parte do departamento de psicodinâmica e é oferecido aos alunos de 9º e 10º períodos, fazendo parte dos núcleos oferecidos aos alunos de 5º ano; núcleos estes que se dirigem sobretudo à prática clínica.

Contamos com uma equipe de cinco professores e aceitamos, no máximo, 36 alunos.

O NÚCLEO OFERECE UM EMBASAMENTO TEÓRICO

Há três matérias teóricas: na primeira, são oferecidos temas básicos em psicanálise; a segunda se refere à teoria da técnica psicanalítica, que vai instrumentalizar o aluno para o atendimento; a terceira matéria aprofunda os termos mais ligados à teoria já específica de casal e família.

ESTÁGIO

Os alunos do núcleo participam de grupos de supervisão de seis alunos cada. Após uma maior familiarização com o tema, por meio da observação e discussão de várias sessões, os alunos do núcleo iniciam seu próprio atendimento, comprometendo-se assim a atender cada casal ou cada família que eles peguem por um período de um ano. Quando, tanto o terapeuta-estagiário como o professor, consideram necessário prorrogar esse atendimento por mais de um ano, o aluno-terapeuta, já fora do núcleo e formado, tem a oportunidade de continuar atendendo este paciente por intermédio do setor de intervenção da própria Clínica, com uma supervisão em grupo sob a responsabilidade dos próprios professores do núcleo.

Nesse estágio, solicita-se aos alunos o seguinte:

- atendimento ou observação das sessões de um casal ou família; - participação na supervisão propriamente dita; - registro datilografado da sessão para ser discutido no grupo de supervisão e, posteriormente, ser arquivado; - eventuais visitas escolares ou entrevistas com outros profissionais diretamente relacionados ao processo terapêutico em questão.

O atendimento do casal ou da família é realizado uma vez por semana em dupla de alunos, procurando-se, entretanto, envolver e responsabilizar todo o grupo de supervisão por este atendimento.

Essa experiência visa possibilitar o desenvolvimento do aluno no seu aspecto profissional. O grupo de supervisão tenta conscientizar o aluno da importância de sua postura como terapeuta; respeitando o cliente o próprio aluno-terapeuta cuida de manter o sigilo dos dados recebidos por parte dos clientes. Na supervisão, cria-se uma dinâmica peculiar que reflete o material trazido pelos clientes possibilitando ao professor trabalhar, no aqui e agora, os aspectos teóricos e práticos do atendimento.

DESAFIOS ENCONTRADOS NA NOSSA ATIVIDADE

Ao tratar de definir nossos objetivos de trabalho, nos defrontamos com um grande desafio pois temos um duplo objetivo: clínico e pedagógico. Nosso trabalho na clínica visa tanto atender os clientes que nos procuram como a necessidade de ensino dos alunos. Manter o equilíbrio entre esse duplo objetivo é uma tarefa muito difícil de conseguir.

Damos ao aluno, a oportunidade de atender uma família ou um casal sob supervisão, pois pensamos que essa é a única experiência que lhe permitirá por-se em contato com as dificuldades práticas e teóricas que se enfrenta nessa tarefa. Se por um lado, consideramos importante realizar esse procedimento, por outro, encontramos algumas dificuldades: apesar de o aluno se mobilizar muito pelo atendimento, esse não deixa de ser em última instância uma exigência formal de um núcleo e não um trabalho especificamente escolhido por ele.

Os alunos, muitas vezes, não possuem a base teórica necessária , isso ocorre tanto por deficiência do currículo como também pelo simples fato de estarem no início de sua formação como psicólogos. Para tentar sanar essas dificuldades, oferecemos um embasamento teórico específico. Por outro lado, freqüentemente os pacientes vêem à Clínica "mandados a tratamento", especialmente pelas escolas quando os alunos apresentam dificuldades e as orientadoras acreditam que seria benéfico tratar o casal ou a família.

Nesses casos, a família tem pouco comprometimento com o tratamento dada a sua condição de encaminhados, não são eles próprios que escolheram a terapia. Esse motivo acompanhado do pouco esclarecimento que, às vezes, se faz para tornar esse paciente de "mandado" a um verdadeiro demandante da situação terapêutica e conjuntamente com a lógica inexperiência dos alunos faz com que a desistência tenha uma porcentagem considerável; havendo, conseqüentemente, um certo desânimo nos alunos quando esses perdem o caso.

Uma dificuldade de outra ordem é que os alunos na maioria dos casos não realizam um tratamento psicanalítico. Alguns iniciam um tratamento com outra abordagem, o que dificulta sua aprendizagem, pois o modelo terapêutico difere ou contradiz o modelo encontrado; em outros casos, o aluno não tem nenhuma experiência terapêutica, em ambas as situações esses fatores alteram tanto sua aprendizagem como o atendimento do cliente. Para contornar essa situação, escolhemos para serem terapeutas-estagiários preferivelmente aqueles alunos que já possuem uma experiência terapêutica em psicanálise.

Quando os estagiários conseguem ultrapassar as dificuldades descritas e podem conter um casal ou uma família num atendimento, a experiência é de grande aproveitamento tanto para os próprios estagiários como para o grupo, que pode usufruir dessa rica vivência.

CONCLUSÃO

Embora haja vários desafios, estamos convencidos de que nossa tarefa é válida tanto para os clientes como para os alunos. Tratamos casais e famílias que de outra forma não teriam possibilidades de serem atendidos. Proporcionamos aos alunos, contato com o trabalho teórico e prático com um casal e uma família, oferecendo a eles instrumentos que os permitam optar ou não por essa especialização profissional.

EQUIPE:

Almira Rossetti Lopes Isabel Khan Marim Lorival de Campos Novo Maria Lúcia Gutierrez Magdalena Ramos

Notas e Referências Bibliográficas:

(1) Psicanalista, Professora de Terapia Familiar na Faculdade de Psicologia da PUC-SP, com Especialização em Terapia Familiar, na Tavistock Clinic - Londres e Candidata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo,

(2)Psicóloga Clínica formada pela Universidade de B uenos Aires - Argentina, Professora do Núcleo de Terapia de Casal e Família - PUC-SP e Autora do Livro: Introdução à Terapia Familiar, Editora Ática.